Sensibilidade e esperança no relato de uma professora indígena!

Neste post, Ara Mirim, indígena da etnia MBya Guarani e professora de Educação Infantil, na Escola Estadual Indígena Taquari, fala de seu dia a dia na escola e de sua esperança de construir uma escola que respeite a essência de seu povo.

RELATOS DE EXPERIÊNCIA

Fabiana Pires de Lima ou Ara Mirim Yvoty

4/9/2024

Sobrenome: Fabiana Pires de Lima

Nome: Ara Mirim Yvoty

Idade: 38 anos

Etnia: Mbyá Guarani

Profissão: Professora da educação infantil

Formação: Graduação em Letras

Cursando: Graduação em Supervisão e Orientação Educacional

Bom, eu vou me apresentar, meu nome é Ara Mirim Yvoty, que significa em português A pequena flor do céu, a minha Tapyi ou Tekoa, que significa aldeia, fica no Vale do Ribeiro, Município de Eldorado, em São Paulo.

O nome da minha Tapyi é Taquari, aqui temos a nossa escola E.E Indígena Taquari.

A nossa rotina, juntamente com os alunos, funciona normalmente, igual a de uma escola de fora, das 7h às 17h da tarde.

De manhã, os alunos dos Anos Finais e Médio começam a estudar e à tarde os alunos menores é que estudam, Anos Iniciais e Educação infantil.

Os alunos aprendem todas as disciplinas de uma escola normal: matemática, língua portuguesa história, geografia, biologia, química, física, filosofia e inglês. Além dessas disciplinas, temos também que ensinar a nossa língua materna, que é Língua Indígena MBYÁ Guarani e os Saberes Tradicionais.

Sonhamos em ter uma escola diferenciada e reconhecida como escola Indígena.

Não uma escola Estadual Indígena com programas e currículos que venham do Governo, mas uma escola Indígena Guarani. Uma escola com autonomia pedagógica, financeira e administrativa e que tenha qualidade para atender às crianças e jovens.

A escolarização, na visão Guarani, não é apenas aprender a ler, contar, escrever, mas aprender juntos a cultura do próprio povo. Um ensino que transmita uma energia positiva quando se fala da cultura, da religião. Uma escola Bilíngue que não justaponha uma cultura sobre a outra, mas que ajuda a construir uma relação em que existe um maior respeito a cultura e história do povo Guarani.

Isso ajudará mais na preservação da língua materna Guarani, por isso também ensinamos às nossas crianças sobre a importância de aprender a Língua Portuguesa, porque futuramente, eles que vão lutar para que a língua materna seja mantida e respeitada.

O meu sonho é construir juntamente com os alunos livros didático na língua Guarani para ser utilizado na sala de aula, isso também ajudaria na preservação da língua materna. Um sonho que eu peço a Nhanderu (Deus) pra me ajudar a realizar.

Eu tenho muito orgulho de ter nascido Mbyá Guarani e de pertencer a esse povo que tem um olhar diferenciado, por ter um respeito infinito pela vida.

 Homem branco nunca vai entender como é o conhecimento dos povos originários que habitam essa terra chamada Brasil.

Termino meu relato com versos:

Dialogando de um modo singular e plural.

Embolando o sono e abrindo as asas da imaginação para conduzir a criança e o adolescente. Acolhendo sempre!

O povo Guarani  tem uma história de resistência e esperança!

Somos Povos Originários.

Viemos de um lugar infinito, atravessamos os tempos e as eras.

Somos filhos dos quatro elementos: terra, água, fogo e ar.

Vivemos em harmonia com a natureza, defendemos a floresta, os peixes, as aves e os animais, porque eles também nos defendem.

Pelo leito dos rios nós nos movimentamos com agilidade, pisando o solo com delicadeza, nos orientamos olhando as estrelas.