Transição de carreira: "Sempre há tempo!"
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
Gosto da tranquilidade, da estabilidade e do planejamento. Entendo, porém, que viver é estar disposto a mudar. É reinventar-se e construir novas perspectivas de pensamentos e ações práticas. Estou sempre refletindo sobre os caminhos aos quais a vida me leva e as rotas que ainda hoje traço. Considero-me corajosa, determinada e, acima de tudo, confiante.
Quando criança, não imaginava o que poderia ser quando crescer. Gostava de brincar com meus irmãos, primos e crianças da vizinhança das mais variadas brincadeiras e profissões que toda criança fantasia e explora em seu ambiente.
Cresci. Cursei Ciências Contábeis e, antes mesmo de concluir a graduação, comecei a trabalhar e me dedicar à profissão.
Casei. A partir daí, as escolhas começaram a ser feitas por nós: eu e meu marido.
Fiz pós-graduação em Organização, Planejamento e Recursos Humanos. Continuei trabalhando e, assim que concluí a especialização, engravidei.
Nossa filha nasceu em 2005 e, nesse tempo, começamos a mudar de cidade, o que aconteceu por ao menos seis vezes em razão das escolhas da nossa família, que envolviam também a profissão do meu marido.
Chegamos em São Paulo em 2007 e novas ideias estavam surgindo. Começamos a repensar nossa rotina, refletimos sobre o dia a dia da nossa filha e como seria importante que ela tivesse uma infância repleta de atenção e cuidados oferecidos integralmente por mim.
Passei a me dedicar à maternidade e aos cuidados da minha casa e da família. Fomos felizes por termos feito essa opção, que considero ter sido a melhor escolha nessa trajetória de construção de percursos.
O tempo foi passando e, após 15 anos, numa conversa em casa, cogitamos a possibilidade de uma mudança de rotina que envolvia meu retorno profissional de uma forma diferente, já que a formação em Ciências Contábeis não me atraía como outrora. E foi assim que surgiu a ideia, maravilhosa por sinal, de mudar de área e cursar Pedagogia.
Estava com 45 anos e me reinventei. Mudei meus propósitos. Reiniciei meus estudos e me entreguei a essa nova área, que por sinal é brilhante, enriquecedora e superimportante para a compreensão e formação do desenvolvimento humano.
Hoje, sou Professora da educação básica e atuo na área da educação infantil com crianças de 3 anos. Estou finalizando minha especialização em Educação Infantil e participo de grupos de estudos que envolvem o tema e aprofundam os conhecimentos sobre as diversas formas de aprendizagem e de desenvolvimento infantil.
Volto à minha infância e lembro-me de como gostava de brincar de ser professora com meus irmãos e amigas, de ler muito durante a adolescência, de ouvir as crianças quando já era adulta e de observar o desenvolvimento da minha filha e compreender que é a partir do afeto que se aprende.
Talvez ali, na minha própria infância, estivesse sendo plantado em meu subconsciente a vontade de me tornar alguém que transformasse, que dividisse, que mediasse ações, que compartilhasse momentos tão significativos quanto os momentos que os professores se dispõem a oferecer a seus alunos.
Eu me reinventei, me modifiquei, me transformei numa professora e numa pessoa que continua estudando e gostando de aprender.
Nunca pensei que as escolhas anteriores a essa tivessem sido equivocadas ou que não tivessem sido necessárias para meu amadurecimento, afinal, estava a todo momento tentando evoluir.
Estou feliz por ter modificado minha trajetória profissional, por ter recalculado minha rota e por estar disposta a aprender e reaprender sempre.
Acredito que as possibilidades de mudanças que aparecem em nossas vidas podem ser estimulantes, positivas, revigorantes e muitas vezes necessárias, mesmo que desafiadoras. Não analisei se era cedo ou tarde demais. Decidi, confiei e enfrentei.
Tenho em mente, portanto, que sempre há tempo. Sempre há tempo.

